A tecnologia de aplicação entra em campo para reforçar o controle da lagarta-do-cartucho do milho

Revista Cultivar  

Autores: 
Henrique Borges Neves Campos (Doutoramento em Agronomia – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho, FCAV/ UNESP, Câmpus de Jaboticabal, SP)
Marcelo da Costa Ferreira (Professor Doutor na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho, FCAV/ UNESP, Câmpus de Jaboticabal, SP)
Sérgio Tadeu Decaro Júnior (Doutoramento em Agronomia – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho, FCAV/ UNESP, Câmpus de Jaboticabal, SP)

Os prejuízos causados por insetos-pragas na cultura do milho preocuparam os agricultores de diversas regiões brasileiras na safra 2013. Apesar do investimento em variedades transgênicas nas plantações de milho (na safra 2013 as variedades geneticamente modificadas atingiram mais de 70% do total semeado, há cinco safras esse percentual não chegava a 15%), nota-se que as perdas provocadas por lagartas ainda constituem fator limitante para atingir altas produtividades.

À vista disso, a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) se destaca. No Brasil, a lagarta-do-cartucho foi considerada praga na década de 60 devido ao surto nas culturas do milho, arroz e pastagens, sendo que os métodos de controle empregados pelos agricultores, naquela oportunidade, não foram eficientes. Desde então, a dificuldade no controle desta praga se tornou uma rotina (na safra 2009 o custo com o controle da lagarta-do-cartucho no Brasil foi superior a 600 milhões de dólares). Atualmente, estima-se que a lagarta-do-cartucho seja responsável por 25% dos prejuízos causados por pragas em cultivos de milho.

O surgimento de híbridos de milho transgênicos criou a expectativa de reduzir os problemas com a lagarta-do-cartucho. Entretanto, sem as prevenções adequadas os riscos de haver quebra de resistência na tecnologia Bt é alto. O plantio de áreas de refúgio com plantas isogênicas (não Bt) tem sido proposto como uma das principais medidas para reduzir a velocidade de crescimento de populações resistentes aos transgênicos. Esta estratégia tem o objetivo de favorecer a reprodução de insetos suscetíveis com possíveis insetos resistentes originados da área Bt, gerando populações suscetíveis.

Apesar das explicações técnicas sobre a razão da área de refúgio, a sua efetiva utilização ainda é muito baixa no Brasil. Esta situação pode ser justificada em decorrência de não haver clareza sobre como conduzir áreas de refúgio, principalmente no que diz respeito ao controle de pragas-alvo. Segundo especialistas da EMBRAPA, é essencial aplicar os preceitos do manejo integrado de pragas (MIP) mesmo em áreas de refúgio. Dessa forma nota-se que, indiretamente, a manutenção da produtividade e da rentabilidade da cultura do milho ainda é dependente do uso de produtos fitossanitários.

Por outro lado, as aplicações de inseticidas para o controle da lagarta-do-cartucho têm sido pouco eficientes, em que inseticidas antes empregados com sucesso no controle desta praga não têm mostrado a mesma eficácia. Entretanto, isto se deve, no geral, ao emprego de técnicas de aplicação inadequadas que favorecem o estabelecimento de populações resistentes a várias classes de inseticidas.

A conscientização de que a pulverização com a finalidade de controle fitossanitário não depende apenas dos produtos de ação comprovada é fundamental. Dessa forma, o conhecimento em tecnologia de aplicação torna-se o principal aliado do agricultor quando o controle químico da lagarta-do-cartucho se faz necessário em cultivos de milho.

Requisito básico para se obter eficácia em aplicações de inseticidas é a escolha correta dos modelos de pontas de pulverização, também chamadas popularmente de bicos de pulverização. As pontas de pulverização são responsáveis por determinar o tamanho das gotas pulverizadas e, consequentemente, a cobertura de gotas sobre o alvo requerido.

De maior adoção pelos agricultores, as pontas de pulverização que produzem gotas finas, geralmente, promovem boa cobertura superficial. Porém, essas gotas podem evaporar em condições de alta temperatura e baixa umidade relativa do ar ou mudar sua trajetória com a ação do vento, caracterizando a deriva do produto aplicado. Vários pesquisadores consideram que gotas de tamanho menor que 100 µm (unidade adotada para a classificação do tamanho de gotas) são facilmente carregadas pelo vento, sofrendo mais intensamente a ação dos fenômenos climáticos.

No caso de serem produzidas gotas muito grossas, não ocorre boa cobertura da superfície, tampouco boa uniformidade de distribuição e deposição em pulverizações em área total. Por outro lado, é recomendado o uso de gotas grossas em condições ambientais desfavoráveis, como temperaturas elevas, umidade relativa do ar baixa e ventos acima de 6 km/h.

No geral, a importância do tamanho das gotas produzidas pelas pontas de pulverização cresce em função da dificuldade de alcance do alvo e das condições ambientais no momento das aplicações, devendo ser considerados os riscos de perdas por evaporação e deriva.

Outro aspecto importante é o volume de aplicação. Em aplicações via líquida, é usual classificar o processo em função do volume de calda aplicado por hectare (litros/hectare). Atualmente, há a demanda do setor produtivo para reduzir o volume de calda nas pulverizações. A partir de menores volumes há menos transporte de água ao campo e menor número de paradas para reabastecimento do pulverizador, por consequência, aumento da capacidade operacional do equipamento de aplicação e menor custo de produção.

No entanto, quando o assunto é volume de aplicação é comum que agricultores e técnicos tenham dúvidas em como defini-lo. Em linhas gerais, o volume adequado pode ser definido como a quantidade de calda necessária para proporcionar a máxima cobertura de gotas com o mínimo de escorrimento, em função do equipamento ou técnica de pulverização utilizada, proporcionando controle.

No caso da lagarta-do-cartucho, a maior dificuldade encontra-se em adequar o volume de aplicação para atingí-la com o produto devido às lagartas migrarem e permanecerem protegidas no cartucho das plantas de milho, em que grande parte da calda inseticida não atinge o alvo.

Contudo, o manejo da lagarta-do-cartucho em cultivos de milho não tem se mostrado uma tarefa fácil. Diante da evolução da resistência deste inseto a cultivos de milho Bt e a inseticidas, a qual compromete qualquer programa de manejo integrado de pragas, fica evidenciada a importância do conhecimento em tecnologia de aplicação para o manejo desta praga e sustentabilidade econômica, ambiental e social desta importante cultura.

Planta de milho geneticamente modificada infestada com a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) na região de Jaboticabal, São Paulo.
Fonte: Henrique Borges Neves Campos

 

Planta de milho geneticamente modificada infestada com a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) na região de Jaboticabal, São Paulo.
Foto: Henrique Borges Neves Campos